Local: Terra Indígena Apiaká-Kayabi
História e significados para o povo Kayabi
Para o povo indígena Kawaiwete (Kayabi), sua terra é onde estão enterrados seus pajés. O fato é que, em verdade, os pajés nunca morrem. Permanecem no local do seu sepultamento como guardiões do território e do povo Kawaiwete como um todo. A morte consiste num processo de transformação, geralmente, em algum ser que passará, a partir de então, a compor a paisagem, alguns na forma de cobra; outros, de pedra; outros, de ariranhas; e por assim vai.
Na Terra Indígena Apiaká-Kayabi, onde reside parte da população do povo Kawaiwete, a morte de um pajé conferiu ainda mais importância a um conjunto de saltos localizados no rio dos Peixes, também denominado Tatuy (Tatuê). Ytu’u (cachoeira grande), local sagrado para o povo Kawaiwete, é um marco espacial, divisor de territórios indígenas, palco do avanço colonial sobre a região e local de disputa por grupos interessados na construção de uma usina hidrelétrica.
Localizado no Médio rio dos Peixes, Ytu’u não era considerado um local de habitação, mas um importante sítio de ocupação sazonal dos Kawaiwete. A região desse conjunto de saltos era um ponto de perambulação, onde são acessados diversos recursos. Sobretudo na cachoeira mais a jusante, o rio forma um rebojo onde desemboca o córrego Jaú. Trata-se de uma região bastante especial para os Kawaiwete, onde a mata apresenta uma mancha de Cerrado, cujo solo é constituído por uma areia fina e branca. Nessa região se encontram recursos estimados pelo povo: taquaras para confecção de flechas, palha para confecção de cestaria, remédios fitoterápicos etc.
Extratos de Paisagens Ancestrais do Juruena. Juliana de Almeida. Operação Amazônia Nativa, 2019, p.98.